quinta-feira, 29 de novembro de 2012

- Nada como nadar pelado numa rede.

 ele adorava dizer isso. Mas não acho que ele tenha alguma vez feito. Na verdade eu nem mesmo sei o que significa nadar pelado numa rede, mas de qualquer forma duvido muito que ele tenha nadado pelado em qualquer lugar depois dos 5 anos de idade, pra começar. Mas aquela era meio que a sua frase, tipo um bordão jornalístico ou sei lá, o detalhe é que ele era só um cara qualquer com uma beleza padrão e uma alma ínfima. Essa, por sua vez, era a minha frase. E olha que nem sei o que a palavra ínfima significa. Mas parecia ser algo ruim, assim como ele parecia ser algo ruim pra mim quando dizia ''nada como nadar pelado numa rede''. Talvez esse pudesse ser um romance entre a garota que leu demais no Ensino Médio e o garoto que leu de menos. Mas essa parte já foi escrita muitas vezes e por mais que eu goste de ler sobre opostos que se atraem, escrever sobre eles parece um pouco sem graça de certa forma. Portanto creio que alguns parágrafos serão suficientes pra contextualizar a maldita história que pretendo conseguir tirar de algum de lugar. Voltando ao cara da rede, sendo mais provável que ele tenha tido contato com alguma rede do que nadado pelado prefiro chamá-lo assim, me apaixonei por ele, sei lá quando, sei lá como, fingi que o odiava por uns dois anos, nos pegamos escondido por uns meses e aí o amor foi grande demais pra que se pudesse evitar e assumimos um relacionamento. Três anos depois eu fiquei grávida, nove meses depois eu tive uma filha, Joane. Larguei a faculdade, arrumei um emprego, o cara da rede arrumou dois, nos casamos, alugamos uma casa pequena e fedida, juntamos dinheiro, mudamos pra uma casa pequena e cheirosa, nossa filha fez 3 anos, eu voltei pra faculdade, achei um saco, larguei de novo, fiz um curso a distância qualquer, herdei metade de um escritório de direito do meu pai e ganho dinheiro com ele enquanto meu irmão cuida de tudo. O cara da rede não quer que eu escreva um livro sobre ele. Isso é óbvio, mas ele não admite. Não sei se é medo de que eu releve meus verdadeiros sentimentos por ele, que são de puro ódio e tal, ou se é só algo sobre ter sua imagem exposta. Como se alguém se importasse com a nossa imagem. Ou com o que eu escrevo. Por isso eu não pude dar um nome para ele até agora, ele não aceita nenhuma das minhas sugestões. Todas parecem apontar para ele de alguma forma. O que ele não percebe é que o meu nome estará na capa do livro se ele algum dia sair pelo mundo e aí é evidente que todos saberão que o cara da rede é ele e todos os seus esforços serão inúteis. Às vezes tento me convencer de que isso é uma espécie de plano em que ele me desencoraja tanto que eu fico louca de raiva e por isso escrevo um lindo livro de sucesso e depois ele diz ''oh bobinha, eu só estava te incentivando'' e nós nos abraçamos e beijamos e vamos nadar pelados numa rede. Mas não, é só mais uma atitude egoísta da raça humana. Essa incrível e avançada espécie. Não faço ideia se estou usando os termos corretos. Tem que prestar atenção nisso pra se escrever um livro? Bom, há uns 7 anos atrás eu me imaginaria escrevendo um livro totalmente diferente. Ainda é tempo, é claro, porque nem ao menos sei do que esse livro irá tratar. Talvez da morte de meu pai, ou de como é difícil para uma jovem mulher criar uma filha em meio ao mundo globalizado. Eu não sei. Talvez isso funcione melhor como um conto, uma crônica ou qualquer outra coisa que não precise ter mais do que uma página. Eu estou ficando cansada de não ter um foco, de não ter uma situação incrível pra narrar. Sabe, ficar bêbado não faz com que você escreva bem. Talvez a ressaca, mas não a bebida. Não é tão legal assim ficar bêbado. No fim você só fala um monte de merda e grita e dança músicas que você não consegue dançar sóbria. Não sei se com vocês é assim, não me levem a mal, não é que eu ache ruim ficar bêbada, é só que não é essa coisa toda. Enfim, vou terminar por aqui. Mais uma tentativa fracassada de escrever algo, ou quem sabe mais um momento satisfatório de auto conhecimento através de palavras ditas a si mesmo em uma folha de papel (não que eu esteja usando uma folha de papel).

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