quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Estou escrevendo com minha nova caneta. Ela está aqui, aberta, do meu lado.. e não sei, talvez eu me sinta escrevendo mesmo com ela e assim não esteja pecando tanto em trocá-la por uma página em branco. Ou então é por ela ser o meu tema que eu prefira que ela fique só aqui, do meu lado, me observando enquanto eu descrevo o momento em que a ganhei.
Acho que ganhei. Na verdade eu vou pagar amanhã, mas como ainda não paguei considero que ganhei. Amanhã, depois que sair da aula e passar por aquela papelaria por onde passo todos os dias, mas que nem sei se já havia percebido ser uma papelaria (o maior dos descasos: não sei nem se realmente é um descaso por não saber se sabia ou não da existência dela), e darei 60 centavos a quem me atender (isso não é uma demostração de honestidade, e sim uma descrição).
Preciso de uma caneta. Perco todas as que ganho e amanhã tenho provas. Claro que eu poderia pegar uma caneta emprestada mas, não sei, olhei aquela portinha.. aquele lugar pequeno. Senti vontade de ir lá e comprar uma caneta. Lembrei do dinheiro no meu estojo.
Mas ela não tinha troco.. assim, ganhei uma caneta. Posso estar estranhamente sensibilizada pelo meu livro preferido e pela forma como me sinto bem quando abraço ele mas não importa exatamente o porquê, só sei que foi um dos melhores presentes que ganhei (futuramente uma das melhores compras que já fiz) e isso é, sei lá, tão legal. (legal não é a palavra.. e eu queria parar de falar sei lá, mas quando releio sei lá está no lugar certo, completamente certo)
Isso é simples. Simples feito uma caneta, feito o fato dessa caneta ser um presente e de repente uma compra, de ser tão normal quanto qualquer caneta e ao mesmo tempo ter sido comprada de uma forma diferente de todas as outras (forma normal, mas forma diferente). E por ser minha (será que fico feliz por ela ser minha?) e por escrever coisas minhas, minhas equações ou textos recheados de sei lá.
Adoro essa caneta. Há muito tempo eu não tinha um tema realmente bom sobre o que escrever.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Você é o que você escreve?

Não escrevo o que eu sou. Odeio definições do que se é. Estilo ''você é o que você faz''. São todas ridículas.
Penso de um jeito, faço do outro, e no fim não sou nenhuma das duas coisas.
Já tive um medo terrível de não conseguir dormir. De errar. De morrer.
Sei lá, não tenho mais.

...

Estava lá mais uma vez na monotonia de uma tarde. Absorta em qualquer bobagem como livros, música ou cerâmica. Pensava em alguma coisa que talvez pudesse ser, bem de longe, chamada de problema, como sua sexualidade ou seu peso.
Tardes passam sem que a gente veja. Rápidas, entediantes, poucas vezes produtivas (aliás, o que seria afinal uma tarde produtiva?). Pensar que enquanto se está sozinho em um quarto se dedicando a algo que não te faz nem ao menos sorrir, poderia estar sorrindo sem parar com alguém por perto (sim, estou falando de amor. de paixão? não). Alguém que nessa mesma tarde não deixa o tédio tomar conta! Não, não.. está lá, desenhando plantas de casas com quartos cheios de tédio (isso seria produtivo?).
Talvez fosse mais útil construir casinhas de palitos de picolé. Milhares, uma vila! Cidade, estado, país! O mundo.
O mundo de palitinhos que logo logo seria derrubado como o real (real? ãm?). E derrubar palitinhos não é legal? Depois de todo o trabalho, de todas as horas gastas, de alguns minutos de contemplação, o prazer maior só vem em puxar um dos palitos e ver todos desabarem (um por todos e todos por um!).
Destruir, arruinar, acabar, liquidar, maltratar, judiar, matar. Ignore a moral, Deus e seu filho que ''morreu por nós'', seus pais e a educação, a opinião a alheia e o amor de seus avós. Agora pense, não é bom? Ou talvez seja só uma desculpa concluir que o ser humano gosta da destruição (talvez, continuo concluindo que gosta). Pensar na explicação me cansa e meu pai me grita. Mas é tão simples viver, por que fico complicando tanto?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Os segredos do arroz

Ontem tive uma visão de que deveria esconder algo num saco de arroz. Penso que um saco de arroz, enorme como era em minha visão, é um bom lugar pra esconder uma coisa tipo uma estátua mágica que aprisiona uma garça poderosa e cruel há séculos (não é uma idéia original, baseada em fatos [quase] reais). Mas na minha visão acho que o negócio era esconder uma aliança de compromisso. O que não é tão ridículo assim. Ou é?
Seu namorado chega, seu coração bate mais forte, você dá um sorriso bobo e ele diz ''trouxe um presente!''. Um saco de arroz. Sejamos sinceros, mesmo sem saber que algo está escondido dentro do saco você vai sorrir sem graça ''poxa amor.. adorei!''. Seu namorado vai incentivar ''abre aí'' e em meio a todo aquele arroz você vai, depois de horas de procura, achar uma aliança com o nome dele escrito em itálico! Lágrimas.
Tenho completa aversão a alianças de compromisso (ainda mais com nomes em itálico). Não que eu tenha algum trauma estilo ''ganhei uma e meu namoro terminou depois de dois dias!'' ou que eu seja uma anarquista querendo preservar minha liberdade (até tenho uma queda pelo anarquismo, mas isso não vem ao caso). Só acho inútil.
Do saco de arroz eu gosto. Aquele mistério todo de esconder algo, ou de procurar algo, ou então só a simplicidade e a chatice de ser um saco de arroz. Ele existe, naquela monotonia dele.. sendo sempre assim, um saco de arroz. Uma hora cheio, logo vazio.
Então, depois de ter algo escondido dentro de si, já não é mais tão ridículo quanto antes, mas alguém sabe disso? Todos continuam pasando por ele como se fosse apenas um saco de arroz.
''OH O QUE É AQUILO?''
''ÃM? ONDE? ah. Um saco de arroz.''
E a vida continua.

Talvez esse não seja um fato inédito.. se levarmos e consideração que passo por pessoas a todo momento e raramente fico pensando o que é que elas estão escondendo de mim, de você e do mundo. E dela mesma?
Posso passar por assassinos, idiotas, mães, poetas, dançarinas de tango, muleques, contrabandistas, homofóbicos, desempregados, sapateiros ou sacos de arroz e nem perceber o que eles realmente são. Ou perceber errado. O dia inteiro, o tempo todo, e nem me importo com isso. Posso me importar agora, enquanto escrevo e penso, mas duvido que me importarei amanhã quando estiver atrasada pra aula e passar correndo por uma senhora que esconde mil coisas lindas e que poderiam ser ainda mais lindas depois que descobertas por mim.
Mas não descubro. Quase nunca descubro..
Ainda assim, a vida continua continuando (e a garça mágica presa no saco de arroz).

_

Odeio biologia. Talvez minha sobrevivência dependa do meu sistema endócrino, mas isso não me obriga a saber nada sobre ele. Está funcionando? Beleza, vamos ler poesias, construir casas ou salvar o mundo do aquecimento global. Coisas úteis de verdade.
Hormônios, não.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

conto besta de uma Coleção de ventos

De todos os tipos de ventos estranhos que colecionei, esse foi o mais gostoso. Eu não entendo muito bem porque, por mais experiente que seja com eles, os ventos, nunca analisei nada como sua origem, massas de ar e coisas desse tipo. Disso não sei absolutamente nada, mas sei senti-los mais do que sei sentir qualquer outra coisa. O que eu percebi é que a situação sempre colabora e isso torna meu hábito ainda mais bonito. Percebi porque se fosse escolher alguns pra destacar seriam dois, esse a que me referi e meu primeiro vento de verdade.
O primeiro era simples. Sítio da família, finais de semana ensolarados, minha infância e um pé de jaboticaba. Era sentar lá e sentir o vento forte no rosto, às vezes comendo da fruta direto do pé, às vezes brincando com a colher na terra, às vezes tanta coisa. Senti como o vento era bom ali e passei a querer senti-lo em todo lugar.
E passei. Tanto que me apaixonei por isso, e pelos meus filmes em que os cabelos voavam e eu podia quase sentir o vento de lá aqui. Meu sonho era o vento do trem, mas o mais perto que cheguei foi o vento do carro.
Viagens eram sinônimos de novos ventos, novos ares e mais paixões. Uma amiga me disse para anotar. Para anotar cada vento e sua descrição. Tentei, mas não dava certo, perdia horas escrevendo, tentando chegar perto da sensação do vento, e assim perdia cada brisa imperdível e ia me perdendo dentro de mim. Tiram o vício e a gente se perde, é assim.
Meu outro vento predileto foi mais complexo. A situação toda era tão maior que não dá pra entender só com minhas palavras secas.. na minha pré-adolescencia, em que eu só sabia ler pra depois sonhar com o que tinha lido, eu queria uma paixão. Queria logo um amor arrebatador, mesmo que sofrido, mesmo que platônico, mesmo que distante. Eu queria sentir o que lia, e pra isso precisava de toda alegria e dor de ter um amor.
Tentava amar tudo. Tentei vizinhos, colegas de sala, meus dois irmãos e até meu pai. Cheguei perto com um estranho de cabelos cacheados que vi no metro, mas o vi dizendo que odiava abelhas e não sei porque naquele momento fui tomada por uma adoração imensa as abelhas, não conseguindo me apaixonar por ele.
Quase que carente, desesperada por sentir, desci de bicicleta um morro enorme do meu bairro, coisa que eu fazia todos os dias. Fazia e no fim sentia junto com o vento aquele cheiro de pipoca da praça. Era minha paz. Mas num tal dia em que, por motivos desconhecidos mas com certeza muito importantes, o pipoqueiro não fez sua pipoca, eu desci. Desci e senti um vento com cheiro de nada, de criança, de árvore, de perfume vagabundo. Com cheiro da falta de cheiro de pipoca. De chão, poeira e água. Chuva, calor, gente. Senti um vento com cheiro de vento, vento puro na mistura que ele é, e me senti parte daquilo, do meio, do cheiro, do vento. Me senti parte do mundo e me senti parte do amor.
Devia ter voltado e descido o morro de novo. Mais umas cem vezes, mil. Até que virasse vento com cheiro de mim.

Quem?

'' 'Agora, Kitty, vamos pensar quem foi que sonhou tudo isso. É uma questão séria, minha querida, e vcê não devia ficar lambendo a pata desse jeito... [...] ou fui eu ou foi o Rei Vermelho. Ele fez parte do meu sonho, é claro... mas nesse caso eu fiz parte do sonho dele também! Terá sido o Rei Vermelho, Kitty? [...] me ajude a resolver isto! Tenho certeza de que sua pata pode esperar!' Mas a implicante gatinha só fez começar com a outra pata, fingindo não ter ouvido a pergunta.
Quem você pensa que sonhou?'' (Alice no País do Espelho)



Eu e a Helena sonhamos.