terça-feira, 11 de setembro de 2012

Hi, i'm Chuck.


(esse não é um conto típico e nem mesmo algo realmente criativo, na verdade é mais uma forma de aquietar a alma após um final de história desolador)
Para Helena.

O fato é que um beijo pode ser totalmente diferente pra cada uma das pessoas que beijam. Enquanto uma reconhece o beijo e através dele alcança diversas lembranças (e supervaloriza cada uma delas), a outra metade acha divertido de uma forma meio triste tentar reconhecer o beijo e alcançar pelo menos alguma lembrança através dele. Mas isso não é estranho, não é incomum, porque o que é necessário pra um beijo, é que haja apenas alguma espécie de sentimento em comum. Que nesse caso, seria um pouco de esperança.


- Morgan, será que você pode me dar um ajudinha aqui? - o terceiro pedido de ajuda de Alex soou meio desesperado enquanto ela tentava equilibrar duas caixas e três mochilas.
Morar junto era um grande passo. As coisas ficam mais fáceis quando se ganha uma casa própria do pai da namorada, e ainda mais fáceis quando só um dos membros do casal precisa se mudar. Mas ver tudo acontecendo tão rápido estava assustando um pouco o barbudinho. E onde estava seu amigo Chuck nesse momento? Meu deus, Morgan precisava de um conselho. Casey já estava longe a essa hora, Ellie e o Incrível também, até mesmo Jeffester! A quem ele poderia recorrer...
- Filho! Vai ser um prazer te ajudar! A Buy More não resolve apenas seus problemas com a casa e o computador, mas também os conflitos que povoam o seu coração! - Big Mike tomou fôlego e deu uma mordida em sua rosquinha. - Deixe-me te contar uma coisa. Quando conheci sua mãe não tive dúvidas de que era a mulher de minha vida e morar com ela foi apenas garantir que todas as minhas noites seriam quentes e calorosas! - Morgan já começava a se arrepender de ter vindo procurar Big Mike. Mas era bom estar de volta a Buy More.


- E então? Alguma coisa? - Chuck forçou um sorriso.
- Não, Chuck. - Sara também forçou um sorriso. - Eu sinto muito. Gostaria muito de lembrar de tudo, mas mesmo as coisas de que me lembro, como Irene Demova, não sei de onde vem.
- Tudo bem. Mas você não pode me culpar por ter um pouco de esperança.
Sara sorriu. Não sabia o dizer, não sabia se deveria ficar, mas sentia que devia isso a ele. Estava na praia ao lado de uma espécie de nerd fofo que dizia amá-la mais do que qualquer outra coisa e a única coisa que conseguia sentir naquele momento era desconforto. Tinha de haver um jeito, uma forma de recuperar suas memórias. Elas tinham que estar ali em algum lugar, pelo menos algumas delas restavam e se havia mesmo chance de que a vida dela pudesse ter se tornado tudo o que Chuck dissera, então ela devia a si mesma recuperar tudo isso.


- Alô? Chuck? Preciso falar com você. Sei que você deve estar com a Sara e vocês já têm problemas suficientes.. mas eu estou enlouquecendo. Fui até o Big Mike pedir conselhos. BIG MIKE! Onde eu estava com a cabeça? Chuck, o que eu vou fazer? A Alex não merece isso. Ela não pode me ver assim. O que ela vai pensar se me ver assim? Chuck? Por que você não me atende Chuck?!
Morgan desligou o telefone, respirou fundo e entrou em casa. A primeira coisa que sentiu foi o cheiro de pizza. Isso o acalmou. Alex havia preparado um jantar para ele, queria comemorar o primeiro dia morando juntos.. devia estar esperando com um bom vinho e algumas velas.. ou então ela poderia estar jogando videogame com uma fatia de pizza na mão. E uma cerveja ao lado do prato. Desde que tenha sobrado pizza pra ele, tudo ficará bem.


A primeira sessão de regressão de Sara foi estranha. Não acreditava em psicologia, nem em hipnose, mas também não acreditava no amor e mesmo assim estava fazendo tudo isso por ele. Por uma chance de provar a si mesma que estava errada e que mesmo ela poderia amar de verdade. Conseguiu se lembrar de algumas informações técnicas, do Intersect.. mas não sentia nada. Na segunda sessão se lembrou de um final de semana quase inteiro quando já estava casada com Chuck. Parecia tudo real, sim, mas quando voltava ao lado dele continuava a estar ao lado de um estranho. Com o tempo diversas lembranças foram voltando, como se fossem coisas de anos atrás, de um tempo que não poderia mais voltar e de sentimentos que já não faziam parte dela. Ela sabia que havia amado tudo aquilo, ela sorria ao recordar, ela queria tudo de volta, mas ela não estava apaixonada por Chuck. Ela amava apenas as lembranças que conseguiu recuperar dele. Se agarrava a elas e juntava forças pra continuar.
Já haviam se passado oito meses desde que beijara Chuck na praia e o mais perto de um momento íntimo que tiveram desde então foi uma noite em que jantaram juntos na casa de Morgan e Alex. Estava pensando nisso quando percebeu o problema. Ela agora se lembrava de ter amado Chuck. Da vida deles, não de todos, mas de vários momentos felizes. Então por que não sentia vontade de estar com ele agora? Pelo mesmo motivo que as visitas dele estavam menos frequentes, as mensagens de texto eram raras e as conversas tentando se conhecer melhor não aconteciam mais. Eles haviam se afastado, haviam se importado tanto com o passado que se esqueceram do presente. Se esqueceram de passar um tempo juntos, de contar as novidades um pro outro, de ir à praia com a esperança de que tudo ficasse bem. Agora, mais do que nunca, ela sentia vontade de vê-lo. Sentia  vontade de ir ao cinema, ao shopping, viajar, visitar Ellie, jantar junto, conversar.. fazer tudo que um casal normal faz. Pois seria assim que eles se apaixonariam um pelo outro novamente, seria assim que eles voltariam a ser Chuck e Sara, ex-espiões, em uma casa branca de porta vermelha com cercas e seus nomes escritos na parede. E foi assim que voltaram. E foi assim que foram felizes para sempre como todos os telespectadores esperavam. Ou pelo menos é o que podemos desejar.

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